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Mercados por TradingView

Selic vai a 10,75%; Discussão de mudança do guidance deve ficar para maio.

18 de março de 2024
Escrito por Yuri Alves
Tempo de leitura: 5 min
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Resumo: O Comitê de Política Monetária (Copom) deve voltar a reduzir a Selic em 0,5 p.p. na próxima quarta-feira (20). O cenário externo continuou apresentando deterioração marginal desde a última decisão. No Brasil, os números de inflação seguiram trazendo sinais mistos enquanto dados do mercado de trabalho e de atividade setorial mostraram uma resiliência maior do que a esperada entrando em 2024. Ainda assim, a continuidade na trajetória de desinflação do IPCA, baixa volatilidade no câmbio e estabilidade das expectativas de inflação deverão jogar a discussão de “tirar o plural” do guidance de mais cortes de 0,5 p.p. para maio.

O Comitê de Política Monetária (Copom) realiza a sua 261ª reunião nos dias 19 e 20 de março. Ao final do encontro, esperamos que seja anunciado um novo corte de 50 bps, movimento claramente sinalizado pelo Banco Central e amplamente antecipado pelo mercado. Com relação ao comunicado, esperamos, no limite, mudanças pontuais, sem alteração relevante no que diz respeito à prescrição futura (“Forward Guidance”) para as próximas decisões.

Em termos do cenário externo, o comitê deverá seguir reconhecendo a adversidade para as economias emergentes no atual ambiente global. Em especial, a combinação da manutenção dos núcleos de inflação em níveis elevados e banqueiros centrais conservadores, em busca de sinais mais claros para a obtenção das suas metas de inflação nas principais economias.  Em especial, números fortes de inflação e mercado de trabalho nos EUA têm jogado apostas de corte de juros mais adiante na principal economia do mundo, o que tem contaminado as taxas praticadas ao redor do mundo. Ainda, mesmo que no pano de fundo, a grande especulação em torno do primeiro aumento da taxa de juro no Japão desde 2007 também tem potencial de movimentar o mercado global de juros nas próximas semanas.

Ainda assim, reforçamos a resiliência que tem sido verificada no câmbio, principal canal de transmissão de inflação destas incertezas externas para o ambiente doméstico. Como pudemos ver desde meados do ano passado, o real se depreciou pouco e se recuperou rápido em episódios de estresse elevado nos mercados externos, fator que contribui para a que as portas fiquem abertas para a continuação do processo de afrouxamento monetário que está sendo promovido pelo Copom.

Em seguida, olhando do lado da inflação doméstica, até por uma questão de sazonalidade, a inflação do IPCA voltou a acelerar em fevereiro, trazendo ainda uma composição ruim na ótica do BC, com alta da inflação de serviços e dos núcleos.

Naturalmente, a adoção de uma tendência crescente por preços mais sensíveis ao ciclo econômico e, consequentemente, à política monetária, vem chamando a atenção dos integrantes do Comitê de Política Monetária. Ainda assim, tendo em vista a composição da alta dos serviços, que repercutiu principalmente fatores sazonais ligados a fevereiro, como reajustes de mensalidades escolares, não enxergamos as últimas leituras de inflação como evidência suficiente para que seja alterado o atual plano de da autoridade monetária. Nesta fronte, também vale ressaltar a primeira desaceleração mensal da medida de serviços subjacente desde outubro do ano passado (0,44% vs. 0,76%) – com este resultado, a medida também passou a mostrar desaceleração no acumulado em 12 meses.

Já do lado da atividade, apesar da desaceleração do PIB no 4º trimestre de 2023 corroborar o cenário de arrefecimento gradual da atividade econômica que tem sido antecipado pelo próprio Banco Central, dados setoriais de janeiro têm mostrado uma maior resiliência entrando em 2024. Atualmente, a massa de rendimento real se encontra nas máximas históricas, que ao nosso ver está relacionada a alguns fatores, entre eles: (i) a manutenção de uma taxa de desemprego reduzida, (ii) a desaceleração inflacionária, os mecanismos de transferência de renda (iii) e, possivelmente, até a surpresa no crescimento dos gastos do governo no último trimestre do ano passado – aqui também podemos verificar algum impacto da decisão de zerar os precatórios, que contribuiu com a injeção de mais de R$ 90 bilhões na economia entrando neste ano. Nesta mesma toada, a receita real dos setores varejista e de serviços voltaram a figurar próximas dos maiores patamares da série histórica em fevereiro.

A despeito disso, olhando à frente, acreditamos na retomada do movimento de desaceleração gradual da economia, que deve acompanhar a redução do impacto destes fatores, na medida em que esperamos uma taxa de desemprego mais próxima dos 8,0% ao fim do 1º trimestre e a redução dos impulsos de renda verificados no fim do ano passado.

Em suma, não vemos evidências suficientes para a alteração dos trechos que tratam da economia doméstica no comunicado, assim com seguimos enxergando um balanço de riscos equilibrado para esta decisão: “Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.” Desta forma, apesar de entendermos que a retirada do plural do seu forward guidance já nesta quarta-feira pudesse ser uma opção prudente para o Copom, acreditamos que no atual cenário – até pelas manifestações mais recentes de dirigentes do BC – a “calma” deve se sobrepor à “cautela”. Em outras palavras, acreditamos que o Copom opte pelo risco de sustentar a prescrição de mais cortes de 0,5 p.p., podendo ter de voltar atrás na próxima decisão diante de uma maior deterioração até maio, ao risco de gerar um “estresse desnecessário” no mercado como consequência de uma mudança precipitada da sua prescrição futura.

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