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Mercados por TradingView

Cuidado com negócios que matam a galinha dos ovos de ouro

3 de maio de 2023
Escrito por Terraco Econômico
Tempo de leitura: 6 min
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Sendo o objetivo principal de um negócio a entrega de valor para acionistas, quando vemos uma empresa distribuir dividendos é porque ela está cumprindo muito bem sua missão, certo? Na verdade, cabe sempre olhar além de belos números que alegram quem olha mais o curto prazo do que a ideia de que a empresa seguirá presente no amanhã.

Neste artigo, trazemos uma reflexão importante sobre as decisões tomadas por negócios lucrativos e como isso afeta o sucesso ou declínio deles ao longo do tempo. Como vários deles estão disponíveis para compra via ações ou até mesmo dívida, lembre-se sempre de colocar alguns dos questionamentos que apresentaremos aqui na mesa antes de formar posição.

A história infantil da galinha dos ovos de ouro fala sobre o dono de uma ave que expelia, no lugar de simples ovos, alguns que eram de ouro maciço. Porém, vendo que teria de esperar um tempo entre a galinha premiada botar um ovo e outro, teve a ideia de matá-la para ver qual seria o mecanismo milagroso. Sem surpresas, perdeu a galinha mágica e também seus frutos.

A similaridade com negócios brilhantes que depois somem é muito grande.

O que as empresas fazem com seus resultados?

A etapa mais satisfatória de quem tem negócios, seja por meio do empreendedorismo ou dos investimentos em empresas, é o momento em que se avaliam os resultados após todos os esforços e, felizmente, encontra-se o lucro. Poucas alegrias conseguem compensar o momento em que se sabe que a operação está saindo positiva após todos os esforços e pagamentos de despesas, dívidas e impostos.

Chega-se então ao momento em que quem empreende ou faz parte de um conselho administrativo pensa na seguinte decisão: o que vamos fazer com esses resultados? Embora essa pergunta pareça aberta e complexa, todas as soluções para ela se dividirão em dois grandes grupos: distribuir dividendos aos acionistas ou fazer com que esse dinheiro vire mais dinheiro voltando a projetos da empresa.

Os dois extremos de negócios, quando olhamos para o que fazem com seus resultados, são os seguintes: em primeiro lugar aquelas empresas que focam em apenas reinvestir os resultados e, em segundo, aquelas que distribuem tudo (no segundo caso podem ser conhecidas como “vacas leiteiras”). Entre esses dois tipos estão todas as empresas que, com ou sem regras para isso, tomam decisões que dividem os resultados entre distribuições de dividendos e reinvestimentos.

Quando os dividendos devem ser distribuídos?

Um dos maiores conflitos de interesse está entre gestores e donos de negócios em relação ao que fazer com esses resultados. Do lado de quem administra negócios, sempre há vontade de manter mais recursos na empresa, para que novos projetos sejam tocados. Já do lado dos sócios, a vontade tende a ser focada em receber os dividendos, que seriam uma espécie de pagamento dos investimentos feitos anteriormente com o capital alocado.

Independente do tamanho do conflito existente e de quem ganha puxando a corda, um aspecto de racionalidade importante para saber quando seria o momento de distribuir dividendos é: projetos relevantes que impactam o futuro da empresa e/ou levem em conta o melhor custo de oportunidade possível já foram plenamente satisfeitos? Se sim, focar em distribuir é mais interessante do que reinvestir. Se não, reinvestir deveria ser a prioridade.

Cabe apontar que esse conflito de agência (que é o nome do campo de pesquisas na economia que estuda isso), apesar de parecer algo absolutamente focado em termos práticos e do dia a dia empresarial, também já rendeu até Nobel. Ou seja: não são recentes as ideias de que esse conflito existe e deveria ser levado em consideração nas decisões das empresas.

Dinheiro da empresa vs dinheiro de quem investe nela

Uma decisão bastante falada sobre empresas é o fato de que não se deveria confundir o dinheiro gerado pela empresa com o dinheiro a ser utilizado nas contas pessoais de gestores e até mesmo sócios.

Mas existe uma que é pouco apresentada, mas que também faz bastante diferença para o futuro de todo negócio: a decisão sobre o que fazer com os resultados pode ampliar ou diminuir conflitos futuros sobre próximas decisões justamente desses resultados.

Esse tipo de problemática atinge mais negócios de pequeno e médio porte do que outros que sejam de porte maior (e estejam até com capital aberto), mas no fundo atinge a todos eles. Enquanto o dinheiro está na empresa, ele pertence a todos os projetos de alocação dela, sejam eles bons ou ruins. Mas assim que é distribuído aos investidores, não ficará mais sob essa disposição.

Tudo isso parece muito óbvio, mas um exercício mostra a diferença que isso faz no futuro. Imagine que uma empresa petrolífera gera em um ano R$100 bilhões e, durante os próximos anos, todos os problemas relevantes que impactam o negócio (ampliar market share global, resolver ineficiências e se preparar para mudanças futuras) vão demandar R$ 30 bilhões de investimentos.

Caso a decisão seja de distribuir todo o resultado, os problemas ainda poderão ser atacados no futuro, mas poderiam ser adiantados agora.

Agora pense nesse exemplo sendo repetido em todo momento de análise do que fazer com os resultados. Paradoxalmente, estar-se-á diante de uma situação em que, ao mesmo tempo, há lucratividade mas também há falta de dinheiro para investimentos relevantes ao futuro. Caso os concorrentes dessa empresa estejam tomando decisões diferentes dessa e reinvestindo resultados, provavelmente esse negócio ficará para trás de modo irreversível.

Mundo inconstante demanda atenção nessas decisões

Grandes mudanças setoriais geralmente demoram um tempo considerável para ocorrerem, e isso faz com que quem toma as decisões relevantes não se atente ao contexto e, assim, muitos negócios acabam morrendo pelo caminho. Dois exemplos, sendo um do passado e outro que ocorre nesse exato momento, ajudam a explicar como isso acontece.

Kodak foi uma gigante do mundo da fotografia que, antes de todo mundo, teve acesso ao conjunto de tecnologias que daria origem às câmeras digitais. Por ver que perderia um lucrativo setor no qual liderava globalmente, preferiu ignorar a preferência. Resultado? Praticamente desapareceu, tendo ínfima contribuição atual.

Aramco é hoje a maior petrolífera do mundo. O petróleo é, hoje, a fonte energética que move o mundo. Mas como ele gera muitos resíduos, o mundo todo está pensando em reduzir a dependência que temos dessa fonte. Seria a Aramco então uma empresa que ignora essa mudança porque têm seus resultados majoritariamente vindos do petróleo? Não: além de reconhecer essa importância, aloca US$ 1,5 bi em um fundo de sustentabilidade próprio e estima que em 30 anos uma grande virada energética ocorrerá.

Geralmente somos focados em decisões de curto prazo: o que acontecerá no próximo mês, no próximo trimestre, no máximo no próximo ano. Porém, empresas que quiserem estar presentes amanhã precisam se adaptar a isso com decisões que se iniciam hoje.

E, na prática, quem decide abrir a galinha dos ovos de ouro imaginando que faz bom negócio com isso, provavelmente verá na própria empresa o mesmo trágico fim daquela fábula.

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