Mercados por TradingView
O ano era 2019 e o Bull Market estava feroz. Ibovespa acompanhando o ritmo global e subindo (quase) todo dia. A impressão era de que ações nunca mais iriam cair. Entrada de milhares de CPFs na B3, em um movimento extraordinário. Selic caindo e com sinais de que deve ficar baixa por muito tempo. De posse de todas essa informações, se você tentasse adivinhar qual foi a alocação financeira mais feita pelos brasileiros no ano passado, qual seria seu chute?
Separando em sete categorias e elencando-as da menos destacada para a mais, temos: em sétimo lugar, com apenas 2%, as moedas estrangeiras. Em sexto, com 3%, as ações (é possível que aqui já tenhamos alguns incrédulos leitores). Na quinta posição, com 4%, títulos públicos (“mas o Tesouro Direto não tinha se popularizado? só isso?”). Em terceiro lugar, com igual peso, de 5%, títulos privados (LCI, LCA, debêntures, CDB) e previdência privada. Na segunda colocação, com 6%, os fundos de investimento.
Chegamos então a ele, o campeão. Com notáveis 84% de participação, monte que supera com facilidade a soma de todos os outros anteriores, a tradicional Poupança.
Esses dados estão na pesquisa Raio X do Investidor, da ANBIMA, que chega nesta publicação a sua terceira edição.
Apesar desse resultado um pouco controverso, é interessante observar que o movimento de redução de alocações na Poupança é notável, ainda que todas as outras seis categorias tenham ficado quase no mesmo patamar durante os três anos do estudo:
Dentre os motivos pelos quais isso acontece, podemos elencar por exemplo que isso tem relação direta com a Selic baixa sendo um fenômeno recente demais – incapaz ainda de inspirar alocações mais arriscadas -, a educação financeira ainda ser um certo tabu e, para além desses dois, o hábito de poupar ser dependente da renda e de como o consumo ocorre.
Em relação a esse terceiro item cabe fazer uma observação importante. Para quem pesquisa um pouco mais e lida mais organizadamente com suas finanças pessoais procurar alternativas mais rentáveis de investimento no cenário atual de baixa taxa básica de juros parece óbvio. Mas essa está longe de ser a realidade da maioria dos brasileiros. Dentre outros motivos, porque a renda se aproxima da subsistência. Segundo o IBGE, um quinto dos trabalhadores tinha renda média em 2019 igual a metade de um salário mínimo.
Os hábitos de uma boa lida com o dinheiro podem sim serem ensinados. Mas o caminho ainda é bastante árduo, tendo em vista que nosso déficit educacional é tão amplo que fica difícil elencar como prioridade o ensinar sobre dinheiro adiante de português e matemática, ainda que possam esses dois serem de alguma forma mesclados com aquele outro. Há outros problemas mais urgentes a serem resolvidos primeiro.
O estoque atualizado de recursos na poupança, para o mês de julho de 2020, é de R$973,669 bilhões – estoque esse que foi reforçado por uma entrada líquida de mais de R$110 bilhões nos primeiros seis meses desse ano. Quase um trilhão de reais na Poupança.
Neste ano temos o fator coronavírus, que tornou mais complexo qualquer tipo de previsão – algo que possivelmente pode ter contribuído para esse aumento de alocação na Poupança. Mas é aí que está a oportunidade: esse montante imenso de dinheiro que literalmente perde para a inflação pode ser atraído a alocações melhores.
O movimento de desbancarização do brasileiro, de uma caminhada a investimentos melhores, está apenas no começo. Existe um campo imenso para que novos produtos cheguem ao investidor e tornem-se possibilidades reais.
Lembremo-nos do gráfico acima citado: o movimento de queda de utilização da Poupança é maior do que o aumento individual em cada uma das outras categorias, mas como a queridinha do Brasil ainda tem um montante enorme (e rendendo abaixo de zero), não faltam motivos para que quem detém oportunidades mais atrativas possa colocar seus produtos na mesa.
Esse estudo da ANBIMA formará ao longo dos anos uma base de dados interessante sobre o que o brasileiro médio faz com seu dinheiro quando o coloca no sistema financeiro. A depender do evoluir dos três fatores aqui citados – a Selic seguindo em baixa, a educação financeira se tornando mais popular e o hábito de poupar também -, podemos observar uma mudança nesse cenário.
Importante ressaltar também que a Poupança tem forte presença no financiamento imobiliário nacional e, por este motivo, não dá para imaginar que nos próximos anos a queda seja tão forte que essa alocação praticamente suma. Ela deve continuar bastante presente.
Em todo caso, antes de imaginar que é “um completo imbecil” aquele que não tem uma bela e diversificada carteira, lembre-se que, na média, é de uma maneira absolutamente conservadora e tradicional que o brasileiro médio investe. A decisão entre “fazer troça” com isso ou contribuir com o escoamento desse dinheiro para diversos setores dependerá diretamente da qualidade do diálogo entre quem oferece produtos financeiros e quem pode alocar recursos neles.
Ou, mais diretamente: a batalha é árdua, mas há muito dinheiro na mesa. Oportunidade, para quem investe e pra quem quer captar recurso, não vai faltar!
FECHAMENTO: S&P 500: 5064 (+ 0.91%)IBOVESPA: 127122 (+ 0.95%)DOW JONES: ...
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