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Riqueza, Poder e Drama Familiar: Mensagens da série Succession

23 de junho de 2023
Escrito por Terraco Econômico
Tempo de leitura: 6 min
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Imagem ilustrativa

Em um panorama repleto de produções notáveis, a série de televisão “Succession”, produzida pela HBO, se destaca pela união de aspectos que acabam atraindo a atenção. Se engana quem pensa que tudo se passa apenas em torno do que sinaliza o título – a sucessão de um enorme conglomerado empresarial de origem familiar.

A trama complexa e as excelentes atuações nos conduzem ao coração da família Roy, proprietária de um império midiático global. O patriarca, Logan Roy (Brian Cox) está envelhecendo e a série se inicia com uma pergunta relevante: quem irá sucedê-lo?

A questão da sucessão é o grande fio condutor da série, mas existem aspectos diretos que nos fazem lembrar das relações que ela tem com a economia. Neste artigo trataremos deles!

Espelhos da realidade: conflitos familiares no mundo dos negócios

As tensões familiares são a verdadeira teia sobre a qual basicamente todos os pontos da série se desenvolvem. O velho que tudo construiu se opõe a um novo que teria – pelo menos teoricamente –  todas as respostas para um mundo moderno. A briga sobre quem estaria certo acaba ganhando mais destaque do que os próprios direcionamentos dos negócios. 

No episódio “Which Side Are You On?”, logo na primeira temporada, vemos Kendall Roy (Jeremy Strong) tentar uma estratégia que pode até ser chamada de golpe contra o próprio pai. Esta luta de poder reflete muitos conflitos reais que vemos desenrolar-se em empresas familiares ao redor do mundo. 

Exemplos notáveis são as disputas de sucessão na família Schutz, donos da marca de calçados Arezzo, e na família Bettencourt, herdeiros da gigante dos cosméticos L’Oréal. 

Outros dois casos bastante conhecidos nessa seara são o da Porsche, que já ocorreu, e da família Arnault (do conglomerado de luxo LVMH), que acontece agora. Esse último caso, inclusive, conta com um patriarca que é literalmente conhecido como “O Lobo de Caxemira” – Logan Roy da vida real?

A concentração de riqueza e o impacto na sociedade

A série não se esquiva das implicações econômicas e sociais da riqueza e do poder concentrados. No episódio “This Is Not for Tears” da segunda temporada, a família decide sacrificar um de seus membros para salvar a reputação da empresa e, consequentemente, a sua riqueza. 

Esta demonstração do sacrifício em nome do poder e do dinheiro nos leva a questionar as estruturas econômicas que permitem tal concentração de riqueza e poder e seu impacto na sociedade e na economia global.

Outro aspecto que chama a atenção em relação a este tópico é a normalidade do luxo encarada por basicamente todas as pessoas. Helicópteros vão e vêm, carros de centenas de milhares de dólares movem os personagens e visuais de exclusividade e preço alto – o tal quiet luxury que virou discussão em muitos lugares – são tratados com normalidade. 

Não que isso seja problemático, mas, dados diversos problemas encarados como “o fim do mundo” por personagens em diversas ocasiões, tem-se aqui um claro caro de “descolamento da realidade” fruto dessa enorme concentração de riqueza.

As implicações morais e éticas do mundo dos negócios

A série também oferece uma visão incisiva das implicações morais e éticas das decisões empresariais. Em “Safe Room”, um episódio memorável da segunda temporada, um funcionário comete suicídio na Waystar Royco. Levando em conta certos pontos de tensão política do momento, a única preocupação da diretoria presente da empresa foi em preservar essas pessoas, sequer sendo comentado sobre a importância desse evento com um funcionário dentro das instalações.

Diversas outras ocasiões mostram um desprendimento nos mais altos níveis do negócio familiar em relação a aspectos morais e éticos. 

Como a série mostra uma visão dos bastidores desse enorme jogo de xadrez que envolve a sucessão dos negócios, ficam ainda mais evidentes todos os meandros desse campo. Inclusive, vale ressaltar que esse “jogar na fogueira sem receios” acontece, em vários momentos, entre os próprios membros da família.

Sucessão e continuidade nos negócios familiares

Não surpreendentemente, apesar da imensa nuvem de acontecimentos, Succession também aborda questões cruciais relacionadas à sucessão em empresas familiares. No episódio “Nobody Is Ever Missing”, da primeira temporada, Kendall confronta o pai sobre seus planos de sucessão. Este confronto sublinha as tensões que podem surgir durante as transições de liderança nas empresas familiares e os desafios de manter a harmonia familiar em meio a essas mudanças. 

Na vida real, é comum vermos disputas familiares durante essas transições, muitas vezes resultando em rupturas e, em casos extremos, na dissolução das empresas. O grande fator complicador disso tudo envolve o fato de que, para além de todas as relações profissionais, está a própria família. Quanto mais misturados esses dois campos, mais sensível é um processo de sucessão em uma empresa familiar.

Mais complicado do que isso é quando paramos para pensar em outro aspecto bastante relevante: para além de todas as proximidades ou desafetos familiares, empresas têm muitas partes interessadas (funcionários, contratos, fornecedores, fluxos de caixa e tudo mais) que simplesmente precisam seguir adiante. 

Imagine o que aconteceria se toda empresa familiar simplesmente entrasse em rota interna de colisão: além de danoso aos próprios membros dessas famílias, certamente a imensa parte desses outros stakeholders sairia prejudicada.

Desvendando as complexidades das relações familiares

Succession não é apenas um drama familiar ou uma sátira corporativa: é uma exploração minuciosa das complexas interseções entre poder, negócios e família. A série levanta questões profundas e muitas vezes desconfortáveis sobre a natureza do poder, a ética empresarial e o impacto duradouro das relações familiares nas esferas econômica e social. Ela nos convida a refletir sobre as implicações de uma riqueza extrema, a responsabilidade moral das empresas e a importância de uma transição de liderança bem planejada e executada.

A série também nos fornece um estudo de caso fascinante de como a riqueza e o poder podem moldar e distorcer as relações familiares e sociais. Nos desafia a questionar as estruturas existentes e a considerar as implicações mais amplas da concentração de riqueza e poder.

Além do mais, vale sempre ressaltar, a série coloca o espectador em meio a uma verdadeira guerra de vaidades, vontades, egos e ambições que, unindo a cenários deslumbrantes, atuações muito interessantes e reflexões profundas sobre o entrelaçar de negócios e relações familiares, acabam trazendo um conjunto da obra excepcional.

Seguimos com nossa tônica de não dar spoilers – exceto os pontuais apresentados aqui neste artigo -, mas esta dica, dado que a série já se encerrou, é bastante válida: a série se fecha em si, como um bom livro que conta tudo que precisávamos saber. 

Talvez não seja o final mais esperado ou desejado por quem assiste, mas, levando em conta um enorme conjunto de aspectos, certamente é um dos finais mais justos e lógicos em séries nas últimas décadas.

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