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Mercados por TradingView

Trump: ameaças, economia e reeleição em 2020

3 de dezembro de 2019
Escrito por Ignacio Crespo
Tempo de leitura: 4 min
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A indústria dos EUA voltou a decepcionar. Em novembro desacelerou ainda mais. Além disto, neste início de dezembro, as tensões comerciais ao redor do mundo voltaram a se intensificar e, desta vez, envolvem, além dos EUA, Brasil e Argentina. Como consequência, as perspectivas de desaceleração global voltaram à tona no primeiro dia útil de dezembro. Isto, é claro, tem impactos sobre os mercados: nesta segunda-feira (2), por exemplo, as bolsas de EUA e Europa tiveram a sua pior sessão em dos últimos dois meses. Investidores estão preocupados, e muitos já se perguntam sobre as consequências de tudo isto sobre as eleições americanas de 2020 – um dos grandes riscos políticos do cenário internacional. À luz dos acontecimentos recentes, e das perspectivas econômicas, como reagirão os eleitores de Donald Trump? Esta começa a ser uma das principais perguntas. Dito de outra forma: pode começar a diminuir a probabilidade de reeleição de Trump?

Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (2), a indústria dos EUA, medida pelo índice ISM, segue em plena desaceleração. O índice caiu de 48.3 pontos em outubro para 48.1 pontos no último mês, abaixo dos 49.2 esperados pelo mercado, segundo pesquisa da Thomson Reuters. Vale lembrar: abaixo de 50 pontos, o índice sinaliza contração para os próximos meses. Com isto, embora a economia como um todo continue crescendo, a indústria registrou o seu quarto mês seguido de contração. O setor não está no seu pior momento (em setembro, por exemplo, havia atingido o seu pior mês desde a última recessão econômica!), mas as preocupações continuam. Segundo modelos do FED de NY, o PIB desacelerará no quarto trimestre, de expressivos 1.9% registrados no terceiro, para 0.8%. Se levarmos em conta as recentes divulgações de dados, estas projeções podem piorar mais nas próximas semanas.

Quando o assunto é “crescimento global”, um dos maiores receios é a “guerra comercial”. Desta vez, o novo capítulo das tensões envolveu Brasil e Argentina. O presidente Trump decidiu impor tarifas às importações de aço e alumínio provenientes destes dois países, sob a alegação da manipulação das taxas de câmbio. No Brasil, acima de R$4.2, o dólar já acumula depreciação de aproximados 10% no último ano. Na Argentina, a situação é ainda pior: neste mesmo período, o peso acumula depreciação de mais de 60%. Ainda assim, para muitos, as retaliações comerciais são, na verdade, uma resposta à recente aproximação destes à China. Não há como negar: ameaças e imposições de tarifas comerciais têm sido uma das marcas do presidente Trump. Às vésperas das eleições presidenciais de 2020, estas posturas devem continuar; não deveríamos esperar mudanças.

Se a indústria dos EUA vai mal, a desaceleração econômica é o cenário-base, e a “guerra comercial” tende a se estender, quais são as consequências sobre a política dos EUA? De forma especial: haverá algum efeito sobre a probabilidade de Trump ser reeleito em novembro de 2020? Isto interessa não só aos EUA, mas ao resto do mundo. As repercussões sobre os mercados podem ser grandes, assim como o foram desde 2016. Neste momento, vale notar que nem todos parecem tão insatisfeitos assim. Pelo contrário: embora os índices de confiança do consumidor estejam atravessando um período de certa estagnação, algumas regiões do país viveram nos últimos tempos bons momentos. Em especial, regiões que foram importantes para eleger Trump em 2016 tiveram um crescimento da renda significativo, segundo uma matéria da Bloomberg, publicada dias atrás. Portanto, a resposta curta à pergunta inicial me parece ser: “o impacto político sobre Trump pode ser limitado, e estaríamos ignorando muitas variáveis se quiséssemos relacionar o desempenho dos EUA como um todo à probabilidade de reeleição”.

Se você estiver preocupado com o futuro da economia dos EUA (por conta de possíveis reflexos sobre outros países, incluindo o Brasil), a verdade é: o cenário de desaceleração segue sendo o mais provável. A indústria segue fraca, e tem decepcionado aos analistas. Além disso, os índices de confiança já não crescem como antes, e é difícil imaginar que há fôlego para que as expectativas melhores meses antes das eleições. Se o consumo arrefecer, o PIB como um todo desacelera. Mas as consequências políticas disso tudo não são evidentes. Trump ainda segue forte, e regiões que o apoiaram registram alguns avanços nos últimos anos. Por enquanto, difícil imaginar que Trump perderá forças a despeito de uma (já prevista) desaceleração econômica. E também é difícil imaginar que Trump mudará a sua postura agressiva quanto a outros países, e que chegaremos a acordos comerciais no curto prazo. Aos olhos dos mercados, estas perspectivas deveriam soar como um alerta de possíveis oscilações mais fortes à frente.

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