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Mercados por TradingView

Nova política de preços e o futuro da Petrobras

22 de maio de 2023
Escrito por Terraco Econômico
Tempo de leitura: 5 min
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imagem ilustrativa

Tivemos, nos últimos quinze anos, duas mudanças relevantes na política de precificação dos combustíveis vendidos pela Petrobras. Do pós-crise de 2008 até a entrada de Temer, um virtual congelamento; de Temer até muito recentemente, o PPI, que levava em conta um mix entre variações do dólar e do preço internacional do petróleo; e a partir de agora, em Lula III, a política aberta da gestão Prates.

Como basicamente qualquer coisa na vida e nos mercados, nem tudo é tão positivo quanto negativo, mas é preciso observar a área cinzenta entre esses dois pólos e o que ela pode trazer de preocupações ou surpresas positivas. 

É sobre isso que vamos tratar neste artigo!

Como funciona a atual política de preços?

Anunciada ao mercado em 16/05/2023, com validade imediata e efeito direto sobre redução que já começava a valer para o dia seguinte, a nova política de preços da Petrobras observa diversos parâmetros para definir preços de diesel e gasolina, mas elencou dois pontos como sendo os mais relevantes: custo alternativo ao cliente e valor marginal para a empresa.

O primeiro item leva em conta a observação de produtos similares aos clientes da Petrobras (que são as distribuidoras) e o segundo é a discussão da empresa sobre as alocações dos produtos refinados, a dependendo do que mais valer a pena para ela – seja exportar, importar, aumentar ou diminuir refino, dentre outras possibilidades ligadas diretamente ao conjunto de atividades core da companhia.

Para quem investe, o que isso significa?

Isso significa que os produtos da Petrobras deixarão de ter real referência a ser acompanhada, por pelo menos dois motivos.

Em primeiro lugar, não existe mais uma fórmula direta para se acompanhar esse preço, como acontecia durante o PPI. Em segundo, como informado em coletiva com a imprensa, uma vez que a distribuidora da Petrobras foi privatizada (ou seja, não há mais controle sobre ela), os preços levarão em conta os clientes finais e suas especificidades – como distância, capacidade de pagamento e quantidade adquirida -, não uma união que sirva para todo o país.

Logo após o anúncio, a reação do mercado foi positiva, mas vale esperar um cenário estratégico de teste desse modelo tão aberto de precificação: quando pressões de alta forem a realidade tanto sobre petróleo quanto sobre dólar (ou seja, diferente do que acontece agora). 

Isso porque, na atual conjuntura, de fato existe espaço para redução, a dúvida será sobre a dita “conexão com o mercado internacional” quando o inverso ocorrer.

Como a Petrobras é uma empresa com bastante escala e presença no país, possivelmente essa flexibilidade de preços para distribuidoras significará maior competitividade interna do negócio. A dúvida permanecerá sobre como ela se posicionará em termos de mercado global, do qual ela faz parte.

O lado negativo de tudo isso é pensar na possibilidade de que os resultados da empresa sejam usados para fins diversos ao próprio negócio principal. Sim, já discutimos que não é estratégia ideal simplesmente abrir a galinha dos ovos de ouro como se não fosse necessário olhar o amanhã, mas dividendos não distribuídos não necessariamente focarão em projetos internos da própria empresa, poderão também servir a objetivos políticos do governo – os mais diversos possíveis.

Para o governo, o que isso significa?

Trata-se de uma dupla vitória: tem-se a entrega retórica de uma promessa de campanha (a de “abrasileirar os preços”) e, adicionalmente, haverá menor questionamento popular a respeito de “para onde irão os preços”. Em um cenário de despressurização tanto do câmbio quanto do próprio preço do petróleo, ainda há um terceiro item a comemorar, que é o espaço para quedas de preço ainda presente.

Porém, existe outro lado da moeda que, se ainda não foi sentido, provavelmente o será mais adiante: como acionista majoritário da Petrobras, com uma distribuição menor de dividendos, esses recursos deixarão de entrar no caixa do governo. Observando um cenário de contração econômica doméstica e internacional, temos com isso um item a menos para observar no quesito “de onde poderão vir receitas adicionais”.

O saldo, ao menos no curto prazo, é positivo para a imagem do governo, que poderá de fato afirmar que mudou a política de preços da Petrobras de modo a não somente permitir quedas como também encaminhar planos intimamente ligados ao que Lula III anuncia que fará – e basicamente todos levam em conta uma ampliação da presença do Estado em termos de regulamentação e também de gastos, amplos ou focalizados.

E para a Petrobras, o que isso significa?

Superadas as pressões permanentes tanto pela questão “a política de preços PPI fica ou será alterada?” quanto pela pontuação “quando ocorrerão cortes ou aumentos de preços?”, a empresa poderá focar em discussões internas que levem em conta seu próprio longo prazo. Em se tratando de uma empresa de atividades tão complexas quanto a extração de petróleo de uma profundidade de milhares de metros no fundo do mar (o famigerado pré-sal), o foco principal de discussões internas não será o custo das atividades e o consequente repasse via preços.

A grande dúvida agora fica sobre como funcionará a transparência no anúncio de futuros aumentos ou cortes nos preços e como a empresa lidará com cenários adversos dentro do mercado global no qual está inserida. E, é claro, também será importante acompanhar como o fator “os interesses domésticos estarão em primeiro lugar” se traduzirá em ações tocadas por ela daqui em diante.

Qual o saldo dessa mudança?

No curto prazo, apenas levando em conta o que foi divulgado pela própria empresa em comunicado corporativo e em coletiva de imprensa, devemos ter oscilações mais suaves dos preços de combustíveis e, na prática, eles deixarão de causar sustos quando subirem muito e também devem deixar de gerar ilusões quando caírem bastante.

Observando o médio prazo, será necessário entender por meio das próximas demonstrações contábeis trimestrais se essa ideia de mudar de uma regra passível de acompanhamento amplo para outra cujos critérios são tão subjetivos se traduzirá em resultados melhores e maior sustentabilidade do negócio ao longo do tempo.

E, para o longo prazo, é preciso acompanhar os caminhos dessa empresa de economia mista, que, com chances consideráveis, será novamente utilizada para fins políticos e eleitoreiros – mesmo que se fale o tempo todo que “dessa vez será diferente”.

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